Arnaldo é um executivo bem-sucedido. Conquistou o que a maioria das pessoas quer na vida: dinheiro, sucesso, conforto material. Mas ele continua levando uma rotina estressante, que começa cedinho e se estende até altas horas da noite. Nos finais de semana, o celular não pára de tocar. Ele quase nunca tira férias. Não tem tempo para a família e sequer sabe o nome da escola do filho. Vive para a empresa e para ganhar dinheiro - mesmo que não precise mais, pois o que acumulou já é suficiente para criar seu filho tranquilamente. De vez em quando, ele pensa em largar tudo e morar numa aldeia à beira-mar. Acha que seria muito mais feliz. Mas não tem coragem. A advogada Marta adora fazer compras. Seu programa predileto é passear no shopping admirando a vitrine das lojas. Sapatos? Ela tem mais de 20 pares. Casacos? Uns 15. A casa está cheia dos bibelôs que ela compra nesses passeios. Falta mesinha de canto para tantos enfeites. Seu afã consumista é ainda mais forte depois de uma briga com o marido ou da perda de uma causa na Justiça. Nesses dias, para se sentir melhor, ela compra tudo o que lhe agrada. Os presentes lhe dão uma sensação de alívio, de bem-estar. No momento em que está nas compras, ela se sente melhor e consegue vencer a depressão.
Arnaldo e Marta não têm lá uma relação muito saudável com dinheiro. Mas, quem é que tem? Quem sabe lidar com tranqüilidade com ele, sem se deixar levar por emoções? Pouca gente. Segundo estudiosos que adoram colocar as coisas em porcentagens, só uma em cada cinco pessoas sabe lidar bem com a bufunfa. Essa confusão acontece, dizem eles, porque nossa relação com a grana está calcada numa série de crenças, muitas delas equivocadas. Para alguns, só o dinheiro traz felicidade. Para outros, ele é uma coisa suja, indigna. Outros acham que quem gosta de dinheiro é ganancioso e interesseiro, ao passo que os puros de coração não estão nem aí para ele.
Mas culpar o dinheiro pelos dramas da sociedade seria como culpar os carros pelos acidentes de trânsito ou responsabilizar a cerveja pelo alcoolismo. Sozinhos, uma nota de cem dólares, um carrão esportivo ou uma garrafa de cerveja não fazem nada, nem bem nem mal. "O dinheiro em si é neutro. Ele pode trazer coisas boas, como a possibilidade de escolha, de liberdade e de independência, mas também gerar coisas ruins, como ganância, aprisionamento e destruição", diz a psicoterapeuta Denise Impastari, autora de O Julgamento do Dinheiro. "Tudo vai depender da forma como lidamos com ele", diz Denise. A forma como nos relacionamos com o dinheiro diz muito sobre nós mesmos.
Para o filósofo americano Jacob Needleman, professor da Universi-dade Estadual de San Francisco, na Califórnia, alguém só se conhece quando compreende o papel que o dinheiro tem na sua vida. Para ajudar nessa tarefa, alguns estudiosos criaram perfis baseados em estilos de se lidar com o dinheiro. Para a socióloga Glória Maria Garcia Pereira, autora de A Energia do Dinheiro, existem sete perfis principais, criados inconscientemente durante a nossa primeira infância. Entre esses grupos, destacam-se os equilibrados, que lidam bem com a grana. Para essas pessoas, o carro é um meio de transporte - que, sim, pode ser confortável, grande e seguro - , mas não é um símbolo de status. Mesmo com uma conta recheada, o equilibrado não usa sua riqueza para obter vantagens pessoais ou para se impor diante dos outros. O dinheiro não é uma fonte de poder. Ele pode ser usado para ajudar os outros, para fazer o bem à humanidade.
Mas os equilibrados são minoria. Segundo Glória, não ultrapassam 20% da população. O resto de nós perdeu de vista o significado original do dinheiro: um pedaço de papel ou metal, criado no século 7 a.C. pelos gregos para facilitar as trocas de bens entre as pessoas. É verdade que o mundo mudou muito desde então, não dá nem para comparar. E acabou que, hoje, passamos a enxergar no dinheiro coisas que não cabem estampadas nem em uma nota de cem dólares.
Auto-estima
"Dinheiro é uma droga. Ele pode nos dar a sensação de que somos melhores e mais importantes do que realmente somos", diz Needleman, autor do best seller O Dinheiro e o Significado da Vida. Isso acontece porque entregamos ao dinheiro uma parte de nossa auto-estima. Com as coisas que podemos comprar com ele - o carrão, a roupa da moda, o último modelo de celular - nós nos sentimos melhores, mais ajustados socialmente e aceitos por nossos pares. Quem nunca viveu a situação de se sentir pior por comparecer a uma festa com uma roupa inapropriada, por exemplo? Ou teve vergonha do Fusquinha 74 quando todos os amigos tinham carros do ano? É como se fôssemos piores por não podermos ostentar o que os outros têm. E, pelo contrário, quando temos dinheiro e podemos comprar tudo o que queremos, nós nos sentimos mais poderosos, mais fortes.
A riqueza virou uma medida do que somos. Já não somos mais avaliados por nossa sabedoria, nossa habilidade em criar bem os filhos ou pela capacidade de fazer o bem à humanidade. E isso importa tanto quanto o conforto que o dinheiro compra.
Segurança
Muita gente poupa compulsivamente, achando que sua segurança depende do número de dígitos da conta bancária. Até certo ponto, essa preocupação é natural. Afinal, temos os filhos para criar, a velhice por atravessar e as emergências para enfrentar. Mas pouca gente faz as contas para ter uma idéia de quanto vai precisar para isso tudo, e vai guardando, guardando, desesperadamente. "Algumas pessoas acumulam muito mais dinheiro do que seriam capazes de gastar numa encarnação inteira. Isso não faz sentido", afirma o mestre espiritual Sri Prem Baba, líder da irmandade Ordem da Luz, de São Paulo.
Essa busca frenética por segurança, no fundo, esconde uma tremenda falta de autoconfiança. A coisa é simples: se temos confiança em nós mesmos, se acreditamos que somos capazes de desempenhar bem uma função qualquer que nos garanta o sustento pelo resto de nossas vidas, não precisamos ficar poupando alucinadamente. E, assim, no lugar de buscar segurança no dinheiro guardado no banco, nossa segurança vem de nós mesmos.
Identidade
Para muitos, o dinheiro também é o caminho mais fácil para obter a aceitação de seus pares. Somente com o dinheiro, imagina-se, é possível conquistar afeto e ser admirado. A origem dessa confusão começa na infância, quando os pais substituem amor pelos presentes. A criança fixa a idéia de que afeto e dinheiro são a mesma coisa. E a sociedade de consumo reforça essa tese. Os comerciais correlacionam o poder financeiro à realização afetiva: é o celular que só garotas magrinhas usam, o desodorante que garante sexo animal e até a margarina que vem com uma família perfeita junto. Isso leva muita gente a acreditar que para ser aceita - e amada - precisa da roupa, do carro e do perfume certos. A gente nem percebe, mas, a não ser pelos pais, "esses caretas que não entendem nada", não há mais ninguém mostrando às crianças as coisas valiosas que não aparecem nas propagandas, simplesmente porque nenhuma empresa pode embalar e vender. Coisas como espontaneidade, nobreza de atitude, valores, amizade. Coisas que não custam nada, mas valem muito.
Dinheiro traz felicidade?
Parece piada, mas muitos economistas já se debruçaram sobre essa pergunta. E recentemente algumas pesquisas trouxeram respostas interessantes. O consenso entre os economistas até agora é de que, sim, o dinheiro traz felicidade. Os ricos, aparente- mente, são mais felizes que os mais pobres, mas... existem vários "mas", descobriram os economistas Richard Easterlin, da Universidade de Sou- thern California, nos Estados Unidos, e Andrew Oswald, da Universidade de Warwick, Inglaterra, que pesquisam o assunto separadamente.
Em primeiro lugar, essa relação tem limite. Depois de um nível básico em que as necessidades e alguns luxos estão atendidos, mais dinheiro não traz felicidade extra. "Uma vez que você já tenha dinheiro suficiente para assegurar seu bem-estar, qualquer centavo extra não traz uma gota a mais de felicidade, a não ser que ele seja usado para a satisfação dos outros", diz a psicóloga Denise Ramos, da Pontifícia Universidade de São Paulo (PUC-SP). Além disso, o efeito de um aumento de renda ou do ganho de uma bolada tem duração limitada. "Paira sobre a humanidade a maldição de nunca estar satisfeita com aquilo que tem", diz Oswald.
Então, de onde vem a felicidade? Há alguns anos, junto com o professor David Blanchflower, Oswald calculou quanto valem, em dólares, algumas conquistas corriqueiras da vida, com base em milhares de entrevistas feitas na Inglaterra. Os números, evidentemente, foram estimados para um país rico, e devem ser vistos como são: tentativas de mensurar o imensurável, comparações matemáticas. Mas, se a moeda corrente é a principal medida do valor das pessoas hoje em dia, é bom você saber valorar algumas conquistas que a gente não leva em conta, quando faz as contas. Por exemplo, segundo os dois economistas, a felicidade de estar casado equivale a um aumento de 24 mil reais na renda mensal. Por outro lado, uma viuvez representa uma perda de 50 mil reais no salário."A importância dos relacionamentos para o bem-estar aparece com destaque nos levantamentos", afirma Oswald. No final, dos números brotou algo tão óbvio quanto surpreendente de se ver em estudos econômicos: a constatação de que a felicidade, afinal, vem dos contatos pessoais, dos relacionamentos, das atividades que se faz, enfim, do fato de viver. Quando o dinheiro é usado para viabilizar isso tudo, ele também traz felicidade.
Qual é o seu perfil?
Pão-duro - Ele tem medo de um dia ficar sem dinheiro e, por isso, guarda tudo o que ganha. Não vive o presente e deixa tudo para um futuro sem data. Essa atitude está ligada a alguma carência da infância, de afeto ou de alimento, por exemplo. No fundo, o sovina acredita que o dinheiro pode completá-lo, oferecendo o carinho ou o amor que não recebeu quando criança.
Gastador - Consumista compulsivo, para ele o que importa é o prazer do momento. Em geral, são pessoas com baixa auto-estima, que usam o dinheiro para construir a própria identidade e serem aceitas. A raiz desse problema pode estar em uma infância sem limites, em que a criança teve o que quis.
Escravo - Para ele, o dinheiro não é um meio, mas um fim. Ele só quer saber de acumular. A origem desse comportamento pode estar em uma educação severa, sem espaço para exprimir vontades e idéias pessoais. Quanto mais ganha, mais quer ganhar e, por isso, mas escravizado se sente. Pode estar relacionando o dinheiro à segurança e, ao mesmo tempo, ao poder.
Desligado - Não sabe bem quanto recebe, nem o valor das coisas. Emocionalmente imaturo e dependente do outro, o desligado tem sempre alguém que organiza sua vida financeira. A origem disso pode ser uma infância protegida, em que a criança recebia o que precisava sem pedir. Para essas pessoas, o dinheiro é uma coisa impura e indigna.
Confuso - Não sabe lidar com as próprias emoções nem com a dinâmica do dinheiro, baseada na troca. Costuma dar o que tem e o que não tem para entes queridos porque confunde afeto com dinheiro. É atormentado por carências afetivas e sentimentos de culpa. Para esse indivíduo, o dinheiro, além de um instrumento de troca, é o recurso principal para ser aceito socialmente.
Raivoso - Fica irritado só de ouvir falar no assunto. A maior parte não sabe ganhar dinheiro e geralmente ganha menos do que gostaria. Neste perfil também se enquadram filhos de famílias ricas que não podem decidir de que forma usar o dinheiro, já que o controle da grana pertence ao pai. São pessoas que enxergam no dinheiro uma fonte de poder e realização pessoal. Eles acham que, na hora em que colocarem a mão na grana, seus sonhos se realizarão e eles atingirão um estado de plena satisfação.
Equilibrado - Gente que sabe o que quer e que trabalha para ganhar o necessário para fazer o que deseja. Os equilibrados são confiantes, conhecem os limites de seus desejos e de suas possibilidades e sabem lidar com a frustração. Mas não são passivos. Sabem dosar os gastos com a poupança para emergências. Como lidam bem com o dinheiro, sabem compartilhar com os outros e aproveitar a vida.
Yuri Vasconcelos
Fonte: Site Revista Vida Simples
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Arnaldo e Marta não têm lá uma relação muito saudável com dinheiro. Mas, quem é que tem? Quem sabe lidar com tranqüilidade com ele, sem se deixar levar por emoções? Pouca gente. Segundo estudiosos que adoram colocar as coisas em porcentagens, só uma em cada cinco pessoas sabe lidar bem com a bufunfa. Essa confusão acontece, dizem eles, porque nossa relação com a grana está calcada numa série de crenças, muitas delas equivocadas. Para alguns, só o dinheiro traz felicidade. Para outros, ele é uma coisa suja, indigna. Outros acham que quem gosta de dinheiro é ganancioso e interesseiro, ao passo que os puros de coração não estão nem aí para ele.
Mas culpar o dinheiro pelos dramas da sociedade seria como culpar os carros pelos acidentes de trânsito ou responsabilizar a cerveja pelo alcoolismo. Sozinhos, uma nota de cem dólares, um carrão esportivo ou uma garrafa de cerveja não fazem nada, nem bem nem mal. "O dinheiro em si é neutro. Ele pode trazer coisas boas, como a possibilidade de escolha, de liberdade e de independência, mas também gerar coisas ruins, como ganância, aprisionamento e destruição", diz a psicoterapeuta Denise Impastari, autora de O Julgamento do Dinheiro. "Tudo vai depender da forma como lidamos com ele", diz Denise. A forma como nos relacionamos com o dinheiro diz muito sobre nós mesmos.
Para o filósofo americano Jacob Needleman, professor da Universi-dade Estadual de San Francisco, na Califórnia, alguém só se conhece quando compreende o papel que o dinheiro tem na sua vida. Para ajudar nessa tarefa, alguns estudiosos criaram perfis baseados em estilos de se lidar com o dinheiro. Para a socióloga Glória Maria Garcia Pereira, autora de A Energia do Dinheiro, existem sete perfis principais, criados inconscientemente durante a nossa primeira infância. Entre esses grupos, destacam-se os equilibrados, que lidam bem com a grana. Para essas pessoas, o carro é um meio de transporte - que, sim, pode ser confortável, grande e seguro - , mas não é um símbolo de status. Mesmo com uma conta recheada, o equilibrado não usa sua riqueza para obter vantagens pessoais ou para se impor diante dos outros. O dinheiro não é uma fonte de poder. Ele pode ser usado para ajudar os outros, para fazer o bem à humanidade.
Mas os equilibrados são minoria. Segundo Glória, não ultrapassam 20% da população. O resto de nós perdeu de vista o significado original do dinheiro: um pedaço de papel ou metal, criado no século 7 a.C. pelos gregos para facilitar as trocas de bens entre as pessoas. É verdade que o mundo mudou muito desde então, não dá nem para comparar. E acabou que, hoje, passamos a enxergar no dinheiro coisas que não cabem estampadas nem em uma nota de cem dólares.
Auto-estima
"Dinheiro é uma droga. Ele pode nos dar a sensação de que somos melhores e mais importantes do que realmente somos", diz Needleman, autor do best seller O Dinheiro e o Significado da Vida. Isso acontece porque entregamos ao dinheiro uma parte de nossa auto-estima. Com as coisas que podemos comprar com ele - o carrão, a roupa da moda, o último modelo de celular - nós nos sentimos melhores, mais ajustados socialmente e aceitos por nossos pares. Quem nunca viveu a situação de se sentir pior por comparecer a uma festa com uma roupa inapropriada, por exemplo? Ou teve vergonha do Fusquinha 74 quando todos os amigos tinham carros do ano? É como se fôssemos piores por não podermos ostentar o que os outros têm. E, pelo contrário, quando temos dinheiro e podemos comprar tudo o que queremos, nós nos sentimos mais poderosos, mais fortes.
A riqueza virou uma medida do que somos. Já não somos mais avaliados por nossa sabedoria, nossa habilidade em criar bem os filhos ou pela capacidade de fazer o bem à humanidade. E isso importa tanto quanto o conforto que o dinheiro compra.
Segurança
Muita gente poupa compulsivamente, achando que sua segurança depende do número de dígitos da conta bancária. Até certo ponto, essa preocupação é natural. Afinal, temos os filhos para criar, a velhice por atravessar e as emergências para enfrentar. Mas pouca gente faz as contas para ter uma idéia de quanto vai precisar para isso tudo, e vai guardando, guardando, desesperadamente. "Algumas pessoas acumulam muito mais dinheiro do que seriam capazes de gastar numa encarnação inteira. Isso não faz sentido", afirma o mestre espiritual Sri Prem Baba, líder da irmandade Ordem da Luz, de São Paulo.
Essa busca frenética por segurança, no fundo, esconde uma tremenda falta de autoconfiança. A coisa é simples: se temos confiança em nós mesmos, se acreditamos que somos capazes de desempenhar bem uma função qualquer que nos garanta o sustento pelo resto de nossas vidas, não precisamos ficar poupando alucinadamente. E, assim, no lugar de buscar segurança no dinheiro guardado no banco, nossa segurança vem de nós mesmos.
Identidade
Antes de o mundo se tornar tão individualista, as pessoas se reconheciam pelo que eram, pelo que faziam ou sabiam. Mas, hoje, cada vez mais somos identificados pelo que temos. Assim, um empresário que se preze precisa ter um carro importado na garagem, andar com seguranças, ter uma casa no campo e outra na serra, viajar pelo menos uma vez por ano para a Europa e fazer festas inesquecíveis nas datas especiais.
Essas coisas constroem sua identidade de homem-rico-bem-sucedido. E, no final, boa parte de sua vida acaba sendo gasta na manutenção da aura de sucesso. Estranho.
Isso é tão importante que, segundo pesquisas em casas lotéricas, a maioria dos apostadores não almeja o prêmio máximo. Eles sonham em ganhar uma quantia suficiente para pagar dívidas e dar liberdade de escolha em relação ao trabalho. "Eles temem que o dinheiro mine sua identidade. Afinal, identidade é um conceito estabelecido a partir do lugar social das pessoas, por seus objetivos e lutas, e uma grande soma de dinheiro pode destruir tudo isso", diz o sociólogo escocês Nigel Dodd, da Universidade de Glasgow, autor de A Sociologia do Dinheiro.
O administrador de empresa Luiz Roberto Aguiar, de São Paulo, percebeu a arapuca em que estava se me- tendo e tomou uma decisão radical: vender sua Mitsubishi Pajero depois de colocar no papel o quanto gastava por ano com o carrão. "Vi que se andasse de táxi para todo canto ainda gastaria bem menos", diz ele. Para muita gente, que relaciona o carro a um símbolo de status, não seria nada simples tomar uma decisão como essa.
Aceitação
Essas coisas constroem sua identidade de homem-rico-bem-sucedido. E, no final, boa parte de sua vida acaba sendo gasta na manutenção da aura de sucesso. Estranho.
Isso é tão importante que, segundo pesquisas em casas lotéricas, a maioria dos apostadores não almeja o prêmio máximo. Eles sonham em ganhar uma quantia suficiente para pagar dívidas e dar liberdade de escolha em relação ao trabalho. "Eles temem que o dinheiro mine sua identidade. Afinal, identidade é um conceito estabelecido a partir do lugar social das pessoas, por seus objetivos e lutas, e uma grande soma de dinheiro pode destruir tudo isso", diz o sociólogo escocês Nigel Dodd, da Universidade de Glasgow, autor de A Sociologia do Dinheiro.
O administrador de empresa Luiz Roberto Aguiar, de São Paulo, percebeu a arapuca em que estava se me- tendo e tomou uma decisão radical: vender sua Mitsubishi Pajero depois de colocar no papel o quanto gastava por ano com o carrão. "Vi que se andasse de táxi para todo canto ainda gastaria bem menos", diz ele. Para muita gente, que relaciona o carro a um símbolo de status, não seria nada simples tomar uma decisão como essa.
Aceitação
Para muitos, o dinheiro também é o caminho mais fácil para obter a aceitação de seus pares. Somente com o dinheiro, imagina-se, é possível conquistar afeto e ser admirado. A origem dessa confusão começa na infância, quando os pais substituem amor pelos presentes. A criança fixa a idéia de que afeto e dinheiro são a mesma coisa. E a sociedade de consumo reforça essa tese. Os comerciais correlacionam o poder financeiro à realização afetiva: é o celular que só garotas magrinhas usam, o desodorante que garante sexo animal e até a margarina que vem com uma família perfeita junto. Isso leva muita gente a acreditar que para ser aceita - e amada - precisa da roupa, do carro e do perfume certos. A gente nem percebe, mas, a não ser pelos pais, "esses caretas que não entendem nada", não há mais ninguém mostrando às crianças as coisas valiosas que não aparecem nas propagandas, simplesmente porque nenhuma empresa pode embalar e vender. Coisas como espontaneidade, nobreza de atitude, valores, amizade. Coisas que não custam nada, mas valem muito.
Dinheiro traz felicidade?
Parece piada, mas muitos economistas já se debruçaram sobre essa pergunta. E recentemente algumas pesquisas trouxeram respostas interessantes. O consenso entre os economistas até agora é de que, sim, o dinheiro traz felicidade. Os ricos, aparente- mente, são mais felizes que os mais pobres, mas... existem vários "mas", descobriram os economistas Richard Easterlin, da Universidade de Sou- thern California, nos Estados Unidos, e Andrew Oswald, da Universidade de Warwick, Inglaterra, que pesquisam o assunto separadamente.
Em primeiro lugar, essa relação tem limite. Depois de um nível básico em que as necessidades e alguns luxos estão atendidos, mais dinheiro não traz felicidade extra. "Uma vez que você já tenha dinheiro suficiente para assegurar seu bem-estar, qualquer centavo extra não traz uma gota a mais de felicidade, a não ser que ele seja usado para a satisfação dos outros", diz a psicóloga Denise Ramos, da Pontifícia Universidade de São Paulo (PUC-SP). Além disso, o efeito de um aumento de renda ou do ganho de uma bolada tem duração limitada. "Paira sobre a humanidade a maldição de nunca estar satisfeita com aquilo que tem", diz Oswald.
Então, de onde vem a felicidade? Há alguns anos, junto com o professor David Blanchflower, Oswald calculou quanto valem, em dólares, algumas conquistas corriqueiras da vida, com base em milhares de entrevistas feitas na Inglaterra. Os números, evidentemente, foram estimados para um país rico, e devem ser vistos como são: tentativas de mensurar o imensurável, comparações matemáticas. Mas, se a moeda corrente é a principal medida do valor das pessoas hoje em dia, é bom você saber valorar algumas conquistas que a gente não leva em conta, quando faz as contas. Por exemplo, segundo os dois economistas, a felicidade de estar casado equivale a um aumento de 24 mil reais na renda mensal. Por outro lado, uma viuvez representa uma perda de 50 mil reais no salário."A importância dos relacionamentos para o bem-estar aparece com destaque nos levantamentos", afirma Oswald. No final, dos números brotou algo tão óbvio quanto surpreendente de se ver em estudos econômicos: a constatação de que a felicidade, afinal, vem dos contatos pessoais, dos relacionamentos, das atividades que se faz, enfim, do fato de viver. Quando o dinheiro é usado para viabilizar isso tudo, ele também traz felicidade.
Qual é o seu perfil?
Pão-duro - Ele tem medo de um dia ficar sem dinheiro e, por isso, guarda tudo o que ganha. Não vive o presente e deixa tudo para um futuro sem data. Essa atitude está ligada a alguma carência da infância, de afeto ou de alimento, por exemplo. No fundo, o sovina acredita que o dinheiro pode completá-lo, oferecendo o carinho ou o amor que não recebeu quando criança.
Gastador - Consumista compulsivo, para ele o que importa é o prazer do momento. Em geral, são pessoas com baixa auto-estima, que usam o dinheiro para construir a própria identidade e serem aceitas. A raiz desse problema pode estar em uma infância sem limites, em que a criança teve o que quis.
Escravo - Para ele, o dinheiro não é um meio, mas um fim. Ele só quer saber de acumular. A origem desse comportamento pode estar em uma educação severa, sem espaço para exprimir vontades e idéias pessoais. Quanto mais ganha, mais quer ganhar e, por isso, mas escravizado se sente. Pode estar relacionando o dinheiro à segurança e, ao mesmo tempo, ao poder.
Desligado - Não sabe bem quanto recebe, nem o valor das coisas. Emocionalmente imaturo e dependente do outro, o desligado tem sempre alguém que organiza sua vida financeira. A origem disso pode ser uma infância protegida, em que a criança recebia o que precisava sem pedir. Para essas pessoas, o dinheiro é uma coisa impura e indigna.
Confuso - Não sabe lidar com as próprias emoções nem com a dinâmica do dinheiro, baseada na troca. Costuma dar o que tem e o que não tem para entes queridos porque confunde afeto com dinheiro. É atormentado por carências afetivas e sentimentos de culpa. Para esse indivíduo, o dinheiro, além de um instrumento de troca, é o recurso principal para ser aceito socialmente.
Raivoso - Fica irritado só de ouvir falar no assunto. A maior parte não sabe ganhar dinheiro e geralmente ganha menos do que gostaria. Neste perfil também se enquadram filhos de famílias ricas que não podem decidir de que forma usar o dinheiro, já que o controle da grana pertence ao pai. São pessoas que enxergam no dinheiro uma fonte de poder e realização pessoal. Eles acham que, na hora em que colocarem a mão na grana, seus sonhos se realizarão e eles atingirão um estado de plena satisfação.
Equilibrado - Gente que sabe o que quer e que trabalha para ganhar o necessário para fazer o que deseja. Os equilibrados são confiantes, conhecem os limites de seus desejos e de suas possibilidades e sabem lidar com a frustração. Mas não são passivos. Sabem dosar os gastos com a poupança para emergências. Como lidam bem com o dinheiro, sabem compartilhar com os outros e aproveitar a vida.
Yuri Vasconcelos
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