Um belo dia o filho, que mal consegue articular frases completas, pede para você comprar um brinquedo. Pronto, ele está inserido no mundo do consumo. Entendeu que existe dinheiro, sabe quem tem o dinheiro e que ele pode comprar coisas coloridas, divertidas ou gostosas. Segundo educadores, isso acontece por volta dos dois anos e meio, quando deve começar a educação financeira.
A partir daí, segundo afirmam os educadores, a maior dificuldade é ensinar à criança que ela pode esperar algum tempo para satisfazer um impulso consumista. Esse adiamento do consumo mais tarde se transformará na idéia de poupança. Parece simples, mas é uma dificuldade que muitos adultos que se perdem no cheque especial e nos juros rotativos do cartão de crédito jamais superaram.
A melhor maneira de trazer as pequenas decisões de consumo e de poupança para a vida das crianças é por meio do sistema de mesadas (mensais), que começa com as semanadas (semanais) e que funciona como uma renda não um salário, uma relação trabalhista medida por desempenho.
Pela mesada, a criança toma decisões, aprende que o dinheiro é "elástico" e tem de chegar até o final de um período.
"Preparar os filhos para lidar com dinheiro é ensinar as crianças a esperarem, que seja cinco minutos, para conter um impulso imediatista. Parece pouco, mas conter esse impulso não é natural nem para os adultos. Mas é com a poupança que ela poderá planejar para conseguir as coisas que ela quer conquistar na vida", disse Cássia D`Aquino, educadora.
"Pega um vidro, coloca umas moedas. Por quê vidro? Para a criança ver o dinheiro crescer. Tem que mostrar que o vidrinho compra os sonhos. Pode ser uma bicicleta e depois um iate", disse Augusto Saboia, consultor de finanças pessoais.
Sociedade de classe
Aos cinco anos, o filho pergunta: afinal nós somos pobres ou ricos? Quanto você ganha? Por que o Joãozinho tem os brinquedos mais legais e o Pedrinho quase não tem com o que brincar? Sim, ele começa a descobrir que algumas pessoas são diferentes das outras. Daí em diante as perguntas serão cada vez mais constrangedoras.
Muitos pais se sentem ofendidos com essa pergunta, recebida como avaliação de seu desempenho de provedor da casa. Trata-se apenas de curiosidade infantil e não juízo de valor. As respostas e a forma como os pais lidam com essas questões podem ser desastrosas, segundo os educadores. Para Aquino, as crianças têm uma noção de classe social que vem dos contos de fada.
"A menina percebe que não é uma princesa nem mora num castelo. Também não mora numa choupana na floresta. Ela quer saber o que ela é. Se o pai não for a pessoa mais rica do mundo, pode dizer que tem gente com muito mais dinheiro do que ele, mas também outras que não têm quase nada. Por alguns anos, essa resposta basta. Mas alguns pais se sentem desconfortáveis e cobrados, querem dar mais do que podem para a criança. O maior erro é querer dar tudo o que não teve na própria infância para o filho."
Sobre o quanto o pai ganha, a recomendação é alegar privacidade e não falar. Dependendo da criança, ela vai pegar a calculadora e descobrir que com o salário mensal do pai dá para comprar um milhão de balas. E por isso, vai ser difícil o pai negar uma ao filho.
Semanadas e mesadas
Com seis anos, a criança já consegue fazer as quatro operações matemáticas fundamentais, tem condições de priorizar seus desejos e impulsos e já pode receber as semanadas.
Uma pequena renda fará a criança sentir na pele que o dinheiro é sempre finito, enquanto as necessidades são infinitas - princípio fundamental da economia, que é mobilizar o capital e os recursos disponíveis para atender de forma mais eficiente e justa possível às demandas.
No longo aprendizado, que costuma demorar 20 anos, os recursos escassos redundarão naturalmente em processos de falência dos filhos. Segundo especialistas, a falência sem correr risco de ter o nome no SPC e na Serasa é um dos maiores aprendizados para aresponsabilidade financeira dos filhos.
"Tem de deixar o moleque ficar duro. Não pode passar a mão na cabeça. [Socorrer rápido demais] É um castigo para a criança. O pai que faz isso está acabando com a vida financeira do filho. Está criando um carma, uma pessoa que não vai querer sair nunca mais da casa dos pais", disse Saboia.
Além das falências, os especialistas apontam que é importante também a criança chegar à conclusão de que está sendo explorada. Colecionar álbum de figurinhas, em que sempre falta uma - a mais cobiçada - leva a criança depois de meses a desconfiar que a tal figurinha não existe, que não tem solução para o problema e que foi enganada. "Não é que tem pai que não espera o filho ficar um mês tentando achar a figurinha e liga para a editora para pedir a coleção completa"?
Toni Sciarretta
Fonte: Folha Online
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A partir daí, segundo afirmam os educadores, a maior dificuldade é ensinar à criança que ela pode esperar algum tempo para satisfazer um impulso consumista. Esse adiamento do consumo mais tarde se transformará na idéia de poupança. Parece simples, mas é uma dificuldade que muitos adultos que se perdem no cheque especial e nos juros rotativos do cartão de crédito jamais superaram.
A melhor maneira de trazer as pequenas decisões de consumo e de poupança para a vida das crianças é por meio do sistema de mesadas (mensais), que começa com as semanadas (semanais) e que funciona como uma renda não um salário, uma relação trabalhista medida por desempenho.
Pela mesada, a criança toma decisões, aprende que o dinheiro é "elástico" e tem de chegar até o final de um período.
"Preparar os filhos para lidar com dinheiro é ensinar as crianças a esperarem, que seja cinco minutos, para conter um impulso imediatista. Parece pouco, mas conter esse impulso não é natural nem para os adultos. Mas é com a poupança que ela poderá planejar para conseguir as coisas que ela quer conquistar na vida", disse Cássia D`Aquino, educadora.
"Pega um vidro, coloca umas moedas. Por quê vidro? Para a criança ver o dinheiro crescer. Tem que mostrar que o vidrinho compra os sonhos. Pode ser uma bicicleta e depois um iate", disse Augusto Saboia, consultor de finanças pessoais.
Sociedade de classe
Aos cinco anos, o filho pergunta: afinal nós somos pobres ou ricos? Quanto você ganha? Por que o Joãozinho tem os brinquedos mais legais e o Pedrinho quase não tem com o que brincar? Sim, ele começa a descobrir que algumas pessoas são diferentes das outras. Daí em diante as perguntas serão cada vez mais constrangedoras.
Muitos pais se sentem ofendidos com essa pergunta, recebida como avaliação de seu desempenho de provedor da casa. Trata-se apenas de curiosidade infantil e não juízo de valor. As respostas e a forma como os pais lidam com essas questões podem ser desastrosas, segundo os educadores. Para Aquino, as crianças têm uma noção de classe social que vem dos contos de fada.
"A menina percebe que não é uma princesa nem mora num castelo. Também não mora numa choupana na floresta. Ela quer saber o que ela é. Se o pai não for a pessoa mais rica do mundo, pode dizer que tem gente com muito mais dinheiro do que ele, mas também outras que não têm quase nada. Por alguns anos, essa resposta basta. Mas alguns pais se sentem desconfortáveis e cobrados, querem dar mais do que podem para a criança. O maior erro é querer dar tudo o que não teve na própria infância para o filho."
Sobre o quanto o pai ganha, a recomendação é alegar privacidade e não falar. Dependendo da criança, ela vai pegar a calculadora e descobrir que com o salário mensal do pai dá para comprar um milhão de balas. E por isso, vai ser difícil o pai negar uma ao filho.
Semanadas e mesadas
Prepare seu bolso! |
Outro aprendizado que pode acontecer cedo é distinguir entre aquilo que a criança precisa daquilo que ela quer ter. A criança quer ter um brinquedo novo, passear com os amiguinhos, comprar um doce, mas ela precisa - e não pode viver sem - ter em casa luz, comida e remédios, se estiver doente.
Com seis anos, a criança já consegue fazer as quatro operações matemáticas fundamentais, tem condições de priorizar seus desejos e impulsos e já pode receber as semanadas.
Uma pequena renda fará a criança sentir na pele que o dinheiro é sempre finito, enquanto as necessidades são infinitas - princípio fundamental da economia, que é mobilizar o capital e os recursos disponíveis para atender de forma mais eficiente e justa possível às demandas.
No longo aprendizado, que costuma demorar 20 anos, os recursos escassos redundarão naturalmente em processos de falência dos filhos. Segundo especialistas, a falência sem correr risco de ter o nome no SPC e na Serasa é um dos maiores aprendizados para aresponsabilidade financeira dos filhos.
"Tem de deixar o moleque ficar duro. Não pode passar a mão na cabeça. [Socorrer rápido demais] É um castigo para a criança. O pai que faz isso está acabando com a vida financeira do filho. Está criando um carma, uma pessoa que não vai querer sair nunca mais da casa dos pais", disse Saboia.
Além das falências, os especialistas apontam que é importante também a criança chegar à conclusão de que está sendo explorada. Colecionar álbum de figurinhas, em que sempre falta uma - a mais cobiçada - leva a criança depois de meses a desconfiar que a tal figurinha não existe, que não tem solução para o problema e que foi enganada. "Não é que tem pai que não espera o filho ficar um mês tentando achar a figurinha e liga para a editora para pedir a coleção completa"?
Toni Sciarretta
Fonte: Folha Online
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