Quem gasta sem planejar costuma comprar o que não precisa. Na terceira reportagem da série sobre educação financeira, o repórter Wilson Kirshe mostra que a família que faz orçamento doméstico vive melhor.
É um ritual em família; no fim do dia, Arnaldo e Patrícia juntam recibos e anotam tudo - tudo mesmo. "Aqui está a gorjeta do malabarista lá da esquina, R$ 0,50", mostra Patrícia. "Assim, a gente presta mais atenção no que comprar e dá mais valor ao que está sendo comprado", explica o consultor Arnaldo Daniel.
Essa é a vantagem de quem faz orçamento familiar, tanto faz se o controle é feito num caderno ou no computador. Basta anotar as despesas fixas - como água, luz, telefone, aluguel - e também as eventuais, como lazer, prestações, compra de presentes.
Depois, em outra coluna, é preciso relacionar as receitas: salário, rendimentos com aplicações, venda de algum bem. A terceira etapa é o balanço: receitas menos despesas.
Se o dinheiro não dá para cobrir tudo, a primeira providência é passar a tesoura nos gastos. Se o balanço for positivo e está sobrando dinheiro, a ordem é poupar. "A melhor sugestão é guardar, fazer uma poupança, alguma aplicação financeira, e ter uma reserva para os momentos difíceis", orienta o economista José Pio Martins.
É um raio-x das suas contas que permite não só identificar gastos, como também planejar a vida da família e eleger prioridades. Com o orçamento doméstico, dá pra enxugar despesas, controlar dívidas e ainda se preparar financeiramente para o futuro a receita ideal para quem quer e precisa sair do vermelho.
A assistente administrativa Mara Cristina de Freitas pretendia agradar a mãe; financiou a reforma da casa, mas não fez as contas e acabou endividada. "Eu tinha previsto gastar uns R$ 6 mil e acabei gastando R$ 15 mil", conta.
Num curso de educação financeira, Mara aprendeu a fazer uma planilha, cortou os gastos e passou a fazer doces e salgados, para vender no emprego. A renda saltou de R$ 1 mil para R$ 2.500 por mês, e hoje ela tem dinheiro sobrando pra financiar um sonho antigo: a casa própria. "Graças a Deus, hoje estou vendo uma luz. Aprendi a me controlar", diz Mara.
Essa lição, dona Santina Camilo, de 65 anos, nunca esqueceu. Com salário de zeladora, R$ 800 por mês, ela construiu e mobiliou um sobrado de 240 metros quadrados, deu carro novo para os dois filhos e ainda paga faculdade particular para um deles.
Essa façanha combina economia e combate ao desperdício; a água que sobrou do tanque limpa o quintal; o ferro de passar é ligado só de 15 em 15 dias, graças a um guarda-roupa cheio de sabedoria. "Procuro comprar roupas que não precisam ser passadas. A gente vê a diferença na conta", ela explica. Na cozinha, o arroz de ontem sempre vira uma nova receita: bolinho de arroz.
Mão fechada? Sovina? A resposta vem rápido: "Se todos adotarem minha receita, eu garanto: pode não sobrar nada, mas também devendo você não vai ficar", diz dona Santina. "Eu me sinto inteligente".
Wilson Kirsche
Fonte: Site Jornal Hoje
0 comentários:
Postar um comentário
Se você quer fazer algum comentário sobre esta postagem, fique a vontade em expressar sua opinião; desde que:
1. Tenha a ver com o assunto;
2. Não haja ofensas pessoais;
3. Não contenha links e spams;
4. Só comente de boa vontade.