Compra, manhê!!!
Quem nunca ouviu dos filhos uma súplica como essa? É difícil admitir, mas todo pai ou mãe normal já levou para casa, contra a vontade, a enésima versão do videogame do garoto ou o supérfluo pompom para combinar com a capinha do celular da menina. Se você já fez isso, não se martirize. É mesmo difícil resistir aos apelos dos pequenos. Mas também não se resigne, porque essa tarefa não é impossível. Com convicção e persistência, podemos ensinar a meninada a consumir com consciência e a gastar bem seu dinheirinho agora e no futuro.
Sim, pois essas gracinhas que hoje fazem birra para conseguir o que querem um dia terão 30, 40 anos e viverão em um mundo complexo e desafiador. Cabe a nós prepará-los. O jeito como lidamos com as finanças reflete nossas emoções, ambições, valores e auto-estima, diz a especialista em educação financeira Cássia DAquino. É fácil ver em adultos mimados, que agem como se o mundo lhes devesse favores, traços egocêntricos da criança que cresceu sem limites.
O consultor de empresas e de família Marcio Mussel considera básico explicar que o dinheiro tanto pode facilitar a vida como trazer complicações, quando mal utilizado. Ele é um dos especialistas que consultamos para listar as boas práticas. Mas atenção: elas só funcionam se você der o exemplo. A criança toma os pais como modelo, diz Mussel. A psicóloga Maria Stella Junqueira Rebouças concorda: Se eles valorizam aspectos superficiais, como grifes e modismos, o filho fará o mesmo. Em resumo: não adianta caprichar nos discursos anticonsumistas e trocar seu celular toda vez que sair um modelo novo.
Não nasce em árvores
Mostre que o dinheiro é fruto do trabalho. O aprendizado deve começar entre 2 e 3 anos. Aos 2 anos, Maria Clara Andrade já pede moedas para guardar no cofrinho. Nessa idade, a criança é capaz de reconhecer cédulas e moedas e de cuidar para não estragarem. Ensine cuidados concretos, pois ela ainda não entende abstrações, recomenda a especialista em educação financeira Cássia DAquino. Se você diz que está sem dinheiro, por exemplo, é comum ouvir do baixinho: Pega no caixa eletrônico. Em vez de ironizar com dinheiro não dá em árvore, é melhor mostrar concretamente de onde vêm os recursos da família. Leve-o ao seu trabalho, não para brincar, mas para explicar qual é sua ocupação, diz Cássia. Senão, ao ver os pais sair para ganhar dinheiro, ele pensa que estão indo ao banco.
Alegria não se compra
Não vincule o prazer de conviver em família a consumo. Se o tempo com seu filho for usado para passear em shoppings ou ver TV, expondo-o à publicidade, é possível que ele aos poucos associe o prazer de conviver com os pais às compras. Faça outros programas, com o objetivo de construir, aprender, criar, ampliar os horizontes. Não é difícil. Vai desde atividades mais culturais, como visitar museus e livrarias, até programas pouco pretensiosos, como montar um quebra-cabeças, fazer uma pescaria ou andar de bicicleta.
Querer não é precisar
Ensine a diferença entre quero e preciso. Letícia, de 11 anos, demorou a entender que querer um celular não significava precisar dele. Queria porque todos na classe tinham, diz a mãe, que não lhe deu um. Luana, de 9, soube que precisava, sim, de tênis novos, pois seus pés haviam crescido, mas comprar três pares, como queria, seria demais.
Fixe uma mesada
Leve a mesada a sério. Ela é um excelente meio para ensinar a lidar com dinheiro, desde que você respeite seu caráter educativo: dar condições à criança de estabelecer e cumprir um orçamento. Mesada é diferente de dar uma grana, que ela pede mais quando acaba ou se não quer gastar a dela. Isso não é bom. Assim, ela aprende é a manipular o adulto, diz Cássia. Presentes, só em datas especiais, aconselha a psicóloga Stella: Se você dá tudo o que seu filho pede, tira dele a chance de se tornar um adulto forte e consistente.
Estimule a poupança
Parte da mesada deve ir para a poupança. A criança precisa aprender desde cedo que, se não guardar o dinheiro, não terá o que quer, diz o consultor Marcio Mussel. Lidar bem com dinheiro implica capacidade de adiar a satisfação em função de um futuro benefício. Mostre que vale a pena esperar para ter algo importante, diz. Ele sugere que os pais a estimulem a ter uma meta de consumo, como um computador. Até comprar o que deseja, há uma trajetória de economia e restrições, o que a fará valorizar sua aquisição, diz. Ter uma poupança cria disciplina, dá limite e ensina auto-respeito, diz Cássia.
Ensine a compartilhar
O conceito de doação vai além dos bens materiais. Para Marcio Mussel, a generosidade implica compartilhar, conviver socialmente, compreender o mundo dos outros. No entender do consultor, nossos filhos serão pessoas melhores se os estimularmos a dar e receber. Ligar para a avó para saber de sua saúde ou abrir a porta do elevador para o vizinho são bons exemplos de respeito e consideração com o próximo.
Reforce seus valores
Um casal descobriu que sua galinha botava ovos de ouro. Na ânsia de saber como aquilo funcionava para poder enriquecer mais depressa, os dois cortaram a barriga da ave. A galinha morreu e eles ficaram sem nada. Moral da história: Quem tudo quer tudo perde. A leitura de fábulas como essa, do escritor francês Jean de La Fontaine (1621-1695), auxilia os filhos a formar uma identidade independente do saldo bancário. Não há problema nenhum em ensinar as virtudesem que você acredita, afirma a psicóloga Stella Rebouças.
Olho no desperdício
As lições de economia podem prosseguir com a reciclagem do lixo doméstico, o bom uso da energia elétrica, a utilização racional do telefone. Importante é criar hábitos que sejam compreendidos e assimilados. A mãe de João, 12 anos, surpreendeu-se diante da reação do filho ao flagrar os colegas fazendo guerra de brigadeiro em seu aniversário. Eles não sabem que brigadeiro custa caro?, indignou-se o garoto.
Valorize a gratidão
Em vez de dar corda às infindáveis reclamações infantis, faça o contrário: desenvolva em seu filho a capacidade de sentir-se grato e de expressar isso. Sabe a história do meio copo dágua, que pode ser visto como meio cheio ou meio vazio? Faça-o reparar naquilo que ele tem, e não no que ele acha que lhe falta, diz a psicóloga Stella Rebouças.
Gratidão é reconhecer que você recebeu algo. Treine-o nessa prática, lembrando-o de agradecer o presente que ganhou do tio ou a gentileza do amigo que o levou para um passeio. Chame a atenção para o fato de ele ter saúde, família, amor, roupas e brinquedos. Esse olhar funciona como vacina contra o consumismo desenfreado, futura fonte de insatisfação. E reforça o aprendizado de que não estamos sós. Se conviver com essa ideia desde pequena, a criança saberá respeitar e valorizar o outro.
Isabel Vieira
Fonte: Site Revista Vida Simples
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